Prof. Dr. Fábio Villaça, chefe da Clínica Médica e disciplina de Cardiologia da FAMEMA – Divulgação

Considerada como polo de saúde, a cidade d e Marília se destaca como um centro de referência em pesquisas médicas, envolvido com reconhecidas instituições nacionais e internacionais. E a área da Cardiologia lidera este quadro com números expressivos. Atualmente o ICM – Instituto do Coração de Marília está envolvido em 16 estudos em conjunto com outras instituições americanas e europeias.

Entre algumas das mais recentes pesquisas desenvolvidas pela equipe do ICM se destaca a tese de doutoramento em Cardiologia de João Saes Braga, apresentada no Instituto Dante Pazzanese, entidade associada à USP (Universidade de São Paulo), com o tema “Avaliação da função sistólica biventricular pelo speckle tracking em pacientes com anemia falciforme”.

Sob o comando de Braga, o estudo pioneiro utilizou uma metodologia inovadora para avaliar a maneira como a doença hematológica pode afetar o coração, realizado ainda em parceria com Hemocentro da Famema e os médicos do corpo clínico do ICM, Fábio Villaça, Alexandre Rodrigues e Fernanda Vilela.

ANEMIA FALCIFORME

A doença falciforme é uma enfermidade genética hereditária – seu portador já nasce com ela, sendo diagnosticada através do teste do pezinho. Sua variante clínica, a anemia falciforme, responsável pela deformidade dos glóbulos vermelhos, representa a forma de maior gravidade. No Brasil, 2.500 crianças nascem com a doença anualmente. A doença é sistêmica – pode afetar qualquer órgão do corpo humano – fazendo com que a expectativa de vida de seus portadores seja baixa – por volta de 42 anos para homens e 46 anos para mulheres. Muitas destas anemias evoluem com dano ao coração, mas até então, no entanto, exames comumente empregados nas avaliações não demonstravam comprometimento cardíaco na fase inicial da doença. “Os estudos identificavam que há uma dilatação do coração, mas os resultados afirmavam que as funções cardíacas se mantinham mesmo com essa condição. O diagnóstico precoce das alterações poderia, então, viabilizar atitudes preventivas na evolução do acometimento cardiovascular”, explica Braga.

ESTUDO

A pesquisa investigou a anemia falciforme, pela primeira vez na literatura científica, sob a ótica de um avançado método de pesquisa da função cardíaca – o speckle tracking ecocardiográfico. A nova técnica, de maior sensibilidade, detectou alterações insipientes em corações supostamente sem alterações. Foram avaliados 40 pacientes maiores de 14 anos. “Verificamos que corações tidos como normais pelos métodos convencionais de avaliação mostraram-se alterados quando avaliados pelo speckle tracking”, pontuou Braga. A técnica, realizada pelo ecocardiograma, avaliou o twist – o quanto o coração se movimenta. “Quando este órgão está doente, o twist é menor”, explica o pesquisador. “Essa alteração precoce da contratilidade do músculo cardíaco foi confirmada pela técnica speckle tracking, o que nos leva a defender um acompanhamento minucioso e o tratamento precoce nos portadores da doença, evitando, possivelmente, que desenvolvam complicações mais graves”.

O ineditismo da produção científica levou ao reconhecimento em uma das mais conceituadas publicações internacionais da área de ecocardiografia: a norte-americana Journal of American Society of Echocardiography (JASE), que publicou o estudo em sua edição de abril de 2015.

O próximo passo será acompanhar a evolução desses pacientes nos próximos anos, monitorando as alterações cardíacas encontradas e aplicando a terapêutica necessária. “O reconhecimento do trabalho nos deixa feliz. É uma sensação muito gratificante por ter um estudo de quatro anos reconhecido pela comunidade médica internacional. Foi um trabalho em equipe rigoroso, bem conduzido e estruturado. Quando iniciamos a pesquisa não imaginávamos se poderíamos obter resultados significativos ou não. E conquistar o reconhecimento da revista de maior impacto da ecocardiografia mundial é um feito muito importante. A sensação é de dever cumprido, com reconhecimento de um trabalho que foi feito com muito cuidado. É o reconhecimento internacional, de um órgão importante, contribuindo para a comunidade médica e pacientes de todo o mundo”, revela o pesquisador.

Com a repercussão desse trabalho, o médico tem sido convidado a falar em vários eventos científicos. No ano que vem, apresentará os resultados em Valença, na Espanha e é também orador convidado no “4th International Conference on Nursing & Healthcare”, a ser realizado em outubro, na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos.

METODOLOGIA

O exame speckle tracking demonstra ser um novo recurso para avaliar com maior sensibilidade as alterações cardíacas mais insipientes. “É um recurso novo, recentemente implantando, presente em poucos centros no Brasil. No interior sua presença é ainda mais restrita. Por outro lado, é uma ferramenta que traz essa possibilidade diagnóstica, reconhecendo alterações em pacientes que obtêm resultados normais por outros métodos diagnósticos”.

Apesar de o estudo avaliar pacientes com anemia falciforme, o exame speckle tracking é indicado para diagnóstico de diferentes enfermidades. “A metodologia pode ser aplicada, de forma geral, em todas as cardiomiopatias, como isquemia do miocárdio, por exemplo, entre outras.

Em Marília, o exame está disponível no ICM com o equipamento de ecocardiograma VIVID E9 4D. “A tecnologia de última geração é usada nos principais centros dos EUA. É uma das mais modernas técnicas diagnósticas não invasivas das doenças cardíacas e reforça o padrão de qualidade profissional e experiência de nossa equipe médica”.

Há poucos anos, o ICM adquiriu o mais moderno equipamento de ultrassonografia cardiovascular para a época, sendo um dos únicos centros cardiológicos do Brasil a dispor desse tipo de exame de alta qualidade de imagem. Mais recentemente, a equipe adquiriu a versão mais atual do equipamento e, segundo os ecocardiografistas da equipe, tal aparelho oferece, além de excelência em qualidade de imagem, vários avanços tecnológicos.

A avaliação em três dimensões do coração em tempo real (eco 4D) permite uma abordagem mais completa e precisa do diagnóstico de várias cardiopatias. Os médicos do ICM, João Saes Braga, Fábio Villaça, Alexandre Rodrigues, Fernanda Vilela e Fábio Joly, que realizam o exame, destacam a capacidade do equipamento em armazenar rapidamente as imagens. “O aparelho trabalha como um tomógrafo, com a possibilidade de analisar posteriormente as estruturas cardíacas detalhadamente, agilizando assim o tempo dos exames. Cardiologistas na cidade e região ganham um importante recurso diagnóstico quando suspeitam que seus pacientes apresentam alguma doença que acometa as válvulas cardíacas, ou em situações em que o músculo cardíaco apresente dificuldades na capacidade de bombear o sangue e até em recém-nascidos com sinais ou sintomas de um defeito cardíaco congênito”, detalham os especialistas. Outro aspecto é o sistema de imagem e computação que permite medidas precisas das funções cardíacas, com análise completa do fluxo de sangue dentro das cavidades do coração, evitando muitas vezes a necessidade de exames invasivos, e acrescentando informações mais seguras para as conclusões diagnósticas. “Um exemplo é o estudo de pacientes com quadro de insuficiência cardíaca, cuja manifestação clínica é o cansaço aos esforços e inchaço nos membros inferiores por acometimento do músculo cardíaco, seja por um infarto extenso ou por outras doenças que enfraquecem o músculo. Observando as pressões muito elevadas, bem como falta de sincronização das paredes do coração, o software calcula medidas de tempo e permite ao cardiologista indicar um tipo de marca-passo bastante específico para estas situações. Para indivíduos com suspeita de obstrução das artérias coronárias, que irrigam o coração, o ecocardiograma de estresse é um dos exames mais realizados pela equipe de cardiologistas do ICM”, explicam os profissionais.

Graças à parceria do ICM com a Santa Casa de Marília, os pacientes do hospital podem dispor dessa tecnologia. O equipamento pode ser deslocado para as enfermarias, pronto-socorro UTI pediátrica e UTI de adultos. Além de adquirir equipamentos de alta tecnologia, os médicos ecocardiografistas são portadores de título de especialista em cardiologia e ecocardiografia, com treinamentos periódicos e atualização em centros internacionais de referência em cardiologia. Com recente estágio na Mayo Clinic (Arizona) e Emory University (Atlanta), dois dos mais importantes centros de cardiologia dos EUA, recentemente Fábio Villaça retornou à Marília com a certeza de oferecer tecnologia de primeiro mundo no serviço mariliense. Depois de participar do International Physician Observer Program, no Departamento de Ecocardiografia da Cleveland Clinic, nos EUA, João Saes Braga também trouxe a mesma impressão do colega. Alexandre Rodrigues participou do curso promovido pela General Eletric Company em Miami, EUA, onde foram abordados todos os principais recursos oferecidos pelo equipamento adquirido, também recentemente.

ICM

A história do ICM – Instituto do Coração de Marília – teve início no ano de 1980, quando um grupo de cardiologistas decidiu implantar um serviço onde o paciente, portador de doenças do coração, pudesse ser atendido de forma integral e especializada. Assim, disponibilizaram-se os mais modernos métodos diagnósticos e tratamento para a época e desde então, o grupo do ICM vem se atualizando profissional e materialmente no sentido de acompanhar as mais recentes aquisições na área cardiológica, que sejam no diagnóstico ou tratamento.

Desde seu início, a instituição tem como filosofia a busca constante do aprimoramento. Contando com médicos especialistas em clínica médica, cardiologia, urgência e emergência, ecodopplercardiografia e diversos com outras titulações, como doutorado, o espectro de atividades do ICM cresceu muito nos últimos anos. Por meio de um intenso intercâmbio com as melhores clínicas europeias e norte americanas, tem mantido constante padrão de qualidade quanto aos equipamentos e qualificação de seus médicos. Isso permite estar a par da excelência no atendimento médico, a consolidação como uma verdadeira instituição de ensino, atuando como um centro nacional, credenciado, na formação de novos especialistas. Em parceria com o Hospital das Clínicas e Santa Casa, nos últimos 25 anos quase uma centena de especialistas em cardiologia foram formados, e hoje atuam em dezenas de cidades do país, cumprindo seu dever como irradiador de conhecimento.

Paralelamente, desenvolveram-se atividades didáticas e de pesquisa, que permitem ao grupo do ICM manter-se unido aos principais centros de referência no país e exterior, principalmente através de estudos multicêntricos para avaliação de novos medicamentos, novos métodos diagnósticos e outras opções terapêuticas. São dezenas de estudos internacionais com observação de inovações terapêuticas avaliadas pelos médicos. Os nomes dos profissionais e da cidade são propagados mundialmente com a produção de publicações médicas internacionais.

Como forma de possibilitar um maior contato com os médicos cardiologistas da região e permitir a atualização científica de todos os profissionais, cursos de reciclagem e educação continuada são desenvolvidos em conjunto com as sociedades médicas da especialidade, de maneira regular.

Programas de treinamento e reciclagem para médicos também fazem parte da rotina diária do ICM, que nestes anos proporcionou treinamento para mais de meia centena de profissionais da área de cardiologia clínica e cirurgia cardíaca, muitos desses atuando em nossa cidade e região.

A constante atualização dos profissionais médicos também se acompanha de permanente treinamento do corpo de funcionários do ICM, através de programas de atualização e reciclagem dos mesmos. Atualmente o corpo clínico é composto por 11 cardiologistas com formações e qualidade de alto nível, em sua maioria com reconhecimento regional, nacional e até mesmo internacional. Profissionais com título de especialista em clínica médica, cardiologia, urgência e emergência, ecodopplercadiografia e também com doutorado na área de cardiologia. Mas é no bom atendimento aos clientes, sem dúvida, que se foca o trabalho da equipe. “Além da busca da competência técnica, consideramos o respeito e a atenção àqueles que nos procuram, como valores inquestionáveis. Como fruto desse trabalho, hoje atendemos dezenas de milhares de pacientes oriundos de uma grande área de nosso estado. Por isso há constantes esforços visando a implantação de um moderno centro de diagnóstico em cardiologia, com novos equipamentos e novas tecnologias incorporadas constantemente”, pontuam os profissionais do ICM.

SAIBA MAIS

Para outras informações, entre em contato com o ICM – Instituto do Coração de Marília, que fica na Avenida Vicente Ferreira, 780, ao lado da Santa Casa. O telefone é o (14) 3402-5252.